Se o Green Day fosse o Goodfellas, o Tré Cool seria Joe Pesci.
“Que, eu sou um palhaço?” diz o baterista, de bom humor, pelo telefone direto de um ensaio em San Diego. “Eu estou aqui para animar você? Você acha que eu sou engraçado?”
Todo mundo não acha? Por quase duas décadas, o Cool de 36 anos — nascido com o nome decididamente careta Frank Edwin Wright III – tem sido o Keith Moon ao Pete Townshed do Billie Joe; um impetuoso irreprimível que é quase tão divertido fora dos palcos quanto no palco. E enquanto a banda que uma vez cantava sobre masturbação, amadureceu pessoalmente e musicalmente através dos últimos anos – como ficou evidente, em seu cada vez mais ambicioso álbum conceitual, e rock-ópera de 2004, American Idiot e o conto pós-Bush deste ano, 21st Century Breakdown – Cool continua tão rápido em uma conversa quanto com suas baquetas.
Enquanto o trio do East Bay coloca os últimos toques em sua nova turnê, Cool tirou uma pausa do ensaio para falar sobre seu joelho zumbi, o novo musical do American Idiot e a mulher dentro dele.
Não que ele esteja sendo engraçado ou algo assim.
Como está o seu joelho? Eu fiquei sabendo que você o machucou zuando na praia antes de fazer o álbum.
Sim. Mas está bom agora. Foi reconstruído. Eu estou com um pedaço de alguém morto dentro de mim.
Não você não está.
Estou sim! Eu tenho um pedaço de um cadáver lá dentro como uma reposição.
Então, o seu joelho levanta sozinho no meio da noite?
Sim. Eu tenho tido estes sonhos estranhos que eu sou um professor no Meio-oeste. E fêmea. Eu posso ter uma mulher dentro de mim. Mais que comum. (risos)
Eu não sei onde você está indo com isso.
Nós estamos indo para o Canadá com isso! Nós estamos levando isso lá pra cima!
Conte-me o que devemos esperar do novo show.
Você deve esperar uma grande extravagância do rock. É tipo Green Day vezes 10. Eu não quero revelar muito, mas a platéia é tão parte do show quanto a banda.
Participação do público parece ser importante para o Billie Joe.
Sim, ele definitivamente é um showman. Um ditador punk rock. (risos) Ele sobe no palco e a platéia obedece muito ele. Todos estão lá para se divertir e ele é o líder.
Como vocês tornaram tudo maior e melhor que da última vez?
Escrevemos outro ótimo álbum e tocamos músicas dele. Nós estamos mudando tudo, não estamos tocando as mesmas músicas que na última turnê. Estamos adicionando músicas que as pessoas não ouviram da última vez e que não tocamos há muito tempo. E estamos tocando as coisas mais novas – basicamente misturando um pouco de cada CD. Isto é um desafio físico por si só, tocar todas estas músicas. Tem 20 e poucas músicas, talvez 30.
E vocês estarão em turnê por quanto tempo, dois anos ou algo assim?
Sim, nós vamos continuar e continuar até desmaiarmos.
Parece que você fornece um fator cômico durante o show.
Oh, muito obrigado cara. (risos)… Sim, nesta banda, nossas personalidades transparecem em tudo. Até mesmo nas gravações, você definitivamente pode nos ouvir como indivíduos. Nós somos personalidades fortes, quicando um no outro. E às vezes quicando no teto.
Billie Joe parece ser um cara muito sério e o Mike Dirnt um cara quieto…
Mike? Quieto? Ha!
E você parece ser o cara que vai acender um rojão na bunda de alguém.
Sim, bom, tem isso. Mas o Mike é hilário. Ele tem muitas coisas sérias a dizer – há vários lados do Mike Dirnt. Mas eu o conheço como um cara engraçado pra ca**lho.
E você tem seu lado sério?
Sim, eu acho. (risos) Eu realmente soco pra cacete a minha bateria toda noite.
Este álbum demorou mais para ser feito que qualquer outro CD seu. Isso foi difícil? Acredito que você quis acabar logo com isto.
Sim, mas nós não serviremos o vinho até que esteja na hora. Certamente houve vezes em que tínhamos tantas músicas que era esmagador. E não tínhamos idéia nem por onde começar – tínhamos, tipo, 40 músicas… Mas leva tempo. Você não pode simplesmente lançar algo como isso.
Vocês três estão igualmente envolvidos no processo? Ou o Billie só apresenta o material para vocês?
Ele faz muita coisa sozinho. Mas ele precisa de ajuda na organização porque ele escreve muita coisa. Ele está constantemente escrevendo. Então é aí que ele procura o resto dos caras. Quanto às melodias e o resto, simplesmente vem a ele de alguma maneira. Ele tem o seu próprio rádio cerebral AM/FM.
Agora vocês são os compositores de um musical.
Sim, a peça do American Idiot. Está estreando fora-fora-fora-fora da Broadway em Berkley, Califórnia. Estamos mantendo-o perto de casa, para que possamos mudar e consertar pequenas coisas. Mas pelo que vimos até agora, é de tirar o fôlego. O elenco é incrível. É interessante ouvir Green Day cantado por mulheres.
Mas não a mulher dentro de você.
Não (risos)… é melhor eu calar a boca agora.
Tradução: Marie Bastos